quarta-feira, 30 de março de 2011

“ O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti...”


“Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…   (A raposa para o pequeno príncipe)” Exupèry



E o nosso pequeno príncipe se foi...  O  Juanzinho já não está mais aqui. No dia do seu terceiro aniversário os médicos constataram a morte cerebral. E a gente fica a pensar que anjo era esse que passou como um cometa, num sorriso inesquecível.  O cabelinho era dourado, nos vídeos que vimos postados pela Dayane, a mãe dele. “ E o trigo que é dourado fará lembrar-me de ti...” E eu vou seguir amando os pequenos príncipes, os anjos meninos, os cometas, as estrelas, e as mensagens de luz que resta deles.

Era tão puro
Devia mesmo ter vindo
De uma estrela
Era um príncipe
_ eu juro
E tinha uns olhos
Postos
Muito além de nós
De algum jardim.
O que tanto
O tornava belo
Era mesmo
A possibilidade
De perdê-lo
Uma estrela
Ouro do trigo
Anjo invisível
Cometa.

Era tão doce
Como uma pequena
Estória de amor
Contada ao ouvido
Aquele menino
Pequeno príncipe
Que eu vi
Com o olhar essencial
Do coração.

Sandra Fonseca. 
 http://avidaebarbaraa.blogspot.com/2011/02/eu-conheci-o-pequeno-principe.html#links

domingo, 20 de março de 2011

2011!


Recebi alta na quinta-feira e fiz uma loucura que jamais deveria ter feito, mas se quer saber. valeu a pena, e eu faria de novo. Logo depois de sair do hospital, fomos todos para Montes Claros, íamos  passar o ano novo na fazenda do Tio Paulo. Eu passei mal a viagem toda, não parava nada no meu estômago. Chegamos em Montes Claros e fomos pra casa da Tia Tine e do Tio Paulo, eles são os pais da bruninha. Estavam todos a minha espera com um super lanche, antes de irmos para a fazenda. Eu só consegui comer um pão de queijo, mas olha, só de estar ali com as pessoas que eu mais amava,já estava valendo a pena. Fomos pra fazenda no mesmo dia. Um dos carros atolou na estrada e foi a maior confusão. No dia 31, a emergia elétrica acabou várias vezes e só as onze da noite a luz resolveu voltar. Foi uma correria, pois todo mundo queria tomar banho e se arrumar para o ano novo. Tia Dária estava acabando de arrumar o jantar, e faltando 5 minutos para a meia-noite, a luz acabou de novo. Acabamos passando o ano novo a luz de velas, mas apesar de tudo eu curtí muito. No outro dia tentei ficar mais quietinha para me recuperar do mal-estar e até conseguí comer alguma coisa. Domingo era o dia de voltar para Belo Horizonte, mas acabei conseguindo adiar para a terça-feira, e com meu pai. Antes de ir ainda passamos na casa da Vovó Tereza, pra eu matar a saudade. E assim 2011 começou, em plena batalha... 


Lá bem no alto do décimo segundo andar do ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas buzinas
Todos os tambores
Todos os reco-recos tocarem:
- Ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada – outra vez criança
E em torno dela indagará o povo:
- Como é o teu nome, meninazinha dos olhos verdes?
E ela lhes dirá
( É preciso dizer-lhes tudo de novo )
Ela lhes dirá bem alto, para que não se esqueçam:
- O meu nome é ES – PE – RAN – ÇA …


Mário Quintana – Ano Novo




                                        


segunda-feira, 14 de março de 2011

Natal!... E havia um menino...




Depois daqueles dias difíceis fiquei um bom tempo em Montes Claros. Foram semanas perfeitas. Loren  (minha prima) tirou carteira de motorista e me levou pra passear na sua “máquina mortifera”. Foram altos passeios, muitas risadas, com Bruninha, Aninha e todo mundo. Foi muito bom mesmo. Voltamos para BH no dia 15 (quarta-feira), e no domingo voltei para o hospital para outra quimio, que começou na segunda-feira. Nem acreditei que não passei mal. Essa foi a melhor, por causa do cateter implantado não me furaram tantas vezes. Mansinha... a  Metotrexato. Fui embora na  quinta-feira, a tempo de pegar os preparativos para o natal na casa da Tia Dária e do Tio Marlindo. Meu colega de quimio, o Bruninho não teve a mesma sorte que eu. A febre o fez continuar internado e não deve ter sido fácil ficar lá na noite de natal. Tia Dária preparou uma bela festa para a nossa família, lá no salão de festas do prédio dela. A noite chegou e estavam todos aqui, meu pai, meu irmão, minha mãe, alguns primos, algumas tias e apesar da ausência da Bruninha foi tudo lindo.  No outro dia fui com o papai e mamãe na praça da liberdade. Que lindooo! A praça estava toda iluminada, e mesmo passando um pouco mal, achei que o passeio foi perfeito.  Papai e Buba (meu irmão) foram para Montes Claros. Sobrou tanta comida boa do natal que aproveitamos até, eu, mamãe, tia Dária, e tio Marlindo. Eu  aproveitei  até demais,  porque passei mal, e a minha internação seria neste mesmo dia. Já cheguei no hospital passando mal.  Mas, outra quimio me esperava, e logo vieram pulsionar o cateter e iniciar o soro que antecede cada sessão de quimioterapia. Dinda tinha uma semana de folga do seu trabalho e foi sempre ficar comigo. Saí na quinta-feira e adivinhem...Fui para Montes Claros!!  Mas, foi uma loucura que conto depois.
Este é o poema que a Tia Sandra (Dinda) me dedicou no Natal. Foi texto também do Cartão da loja da Tetê, a “Objetos com Alma”. Eu que já havia conhecido “O pequeno príncipe “ (Rhuanzinho), já sabia que
Havia um menino...

para Bárbara


E havia um menino
Nascido na palha
E era ele o presente
De amor sem igual
Era filho de um Rei
Era o filho de Deus
Era só um menino
Que era todo humano.

E Veio o menino
Acordar a alma
Da gente que não sonha
E dos meninos tristes.
Encher as palmas das mãos
De todos os homens
De entrega e de esperança.
E ao lado do ouro
Da mirra e do incenso
Havia um burrinho, uma ovelha, uma estrela...

E o menino sorria
E tocava de luz
A alma dos homens, dos bichos
E de todas as coisas
Entre o céu e a terra.

Dinda

domingo, 6 de março de 2011

Uma semana brava como a Cisplatina



 Mais um dia, e outra quimio. A danada da Cisplatina (aquela brava) que eu já havia comentado. Naquela semana colocaria também o cateter (pra quem não sabe, é um acesso totalmente implantável que fica por baixo da pele, conectado a uma veia). Ele facilita muito minha vidinha, pois não precisa me furar várias vezes. Era uma cirurgia, mas estava certa de que valeria a pena. Antes de fazer a quimio, fui para o bloco cirúrgico colocar o cateter. Aquela sala já não me era estranha e o fato de não conhecer o médico, me deixava ainda mais receosa. Era  um cardiologista que a Dra.Karine havia indicado. Dormi logo que me deram a anestesia e quando acordei estavam acabando de implantar o cateter. Depois senti que davam pontos e fiquei bem aflita apesar de não sentir nada. Logo depois fui para uma sala de recuperação. Fiquei um tempão lá e voltei para o quarto. No mesmo dia começei a quimio, que foi um sucesso, e nem passei mal como das outras vezes. Eu estava encantada, pois me sentia ótima, mas foi então que o cardiologista veio com uma notícia inesperada e ruim. Eu estava com pneumotórax (ar no pulmão ) e eu só estava com aquilo porque tentaram implantar o cateter de um lado do peito e não deu certo, então fizeram do outro lado, mas nesse tempo entrou ar no meu pulmão. Eu já chorava muito quando ele disse que eu teria que  colocar um um dreno. Dreno é só uma mangueira enfiada do lado do pulmão e que suga o ar. Ops! como assimmm....  dreno?? eu pirei, e nada nem ninguém me fazia parar de chorar. Lá fui eu de novo para aquela sala de cirurgia, já familiar demais pro meu gosto. Um dos médicos dessa equipe veio tentar me acalmar enquanto o material chegava. Conhecí o anestesista que era de Montes Claros. Acho que dessa vez capricharam na anestesia pois quando acordei já estava naquela sala de recuperação e com uma mangueira grossa,  do lado da minha barriga. Eu só queria ver minha mãe. Naquele momento eu só pensava em vê-la. Chamei o enfermeiro ele me avisou que eu ainda ficaria um tempo lá,. Eu estava com um aparelho respiratório no meu nariz que realmente me incomodava. Ninguém me dava muita atenção e observei que um menininho entrou chorando muito, se debatia todo, chamava pela avó. Passado um tempo, trouxeram a avó dele. Aí pensei comigo que se ele pode porque eu não??  comecei a chorar de novo, ou melhor eu acho que estava chorando. Eu  estava tentando chamar a atenção deles, e o enfermeiro veio logo saber o que estava acontecendo, eu entao disse que queria minha mãe, mas quando olhei no rosto dele achei que ele estava rindo de mim. Acho que não colou muito.Até fiz força, mas a lágrima não descia, como de outras vezes. Sem conseguir convencer ninguém, minha mãe nao foi me ver.Mas depois de um tempo me levaram para o quarto. O tal do dreno era mesmo horrível,  eu não conseguia me mexer que doía demais. Fiquei naquela posição por um bom tempo. A semana foi bem tensa. Todos estavam muito abalados com minha situação. Todos os dias o cardiologista passava  pra me examinar e dizia que no outro dia eu tiraria o dreno, e cada vez eu ficava com mais raiva dele. Chegou o final de semana e eu ainda estava lá Meus pais tentavam me explicar que isso acontece, mas não era fácil eu aceitar. Depois de sete dias, finalmente me libertaram daquela coisa. Ele tirou o dreno e deu os pontos no meu quarto mesmo. A enfermeira Fernanda ficou do meu lado porque mamãe tava passando mal lá no quarto da Lorraine. A fraqueza que eu fiquei por ter ficado de cama, fez a Tia Tetê passar o maior aperto comigo. Eu desmaiava a toda hora. Chegou a quinta-feira e me deram alta. Casquei fora! Sufoco, viu? Meu prêmio foi ir para Montes Claros no dia seguinte.